I Am Not Me, the Horse Is Not Mine,
I Am Not Me, the Horse Is Not Mine (2008) pertence a um conjunto de trabalhos que William Kentridge desenvolveu ao longo dos últimos anos, enquanto produzia sua versão da ópera O nariz (1928), do compositor russo Dmitri Shostakovich (1906–1975). Apresentada pela primeira vez na Metropolitan Opera de Nova York em 2010, a ópera, assim como a videoinstalação, tem seu título emprestado de uma expressão russa usada para negar a responsabilidade de algo, traduzida literalmente por Eu não sou eu, o cavalo não é meu. Ambas as obras são inspiradas na novela do escritor Nicolau Gogol (1809—1852), que narra as peripécias de um oficial de São Petersburgo em sua longa jornada em busca do próprio nariz. O nariz é um dos contos cômico-satíricos mais populares da literatura russa – a história de um nariz emancipado que se liberta de seu proprietário representa uma crítica social em tom cômico, em que um acontecimento absurdo se apresenta ao leitor como fato consumado.
Da mesma forma, a obra de Kentridge, cheia de referências ao modernismo, é tanto uma celebração à inventividade da vanguarda russa como uma espécie de lamento ao seu ocaso trazido pelo regime stalinista. A videoinstalação, composta de oito projeções de grande escala, reproduzidas simultaneamente com cada projetor em loop e uma trilha sonora unificando o ambiente, combina imagens de arquivo, trechos de filmes, animação em stop motion e cenas do próprio artista atuando, gerando uma atmosfera sonora e visual que convida a uma experiência fortemente imersiva e envolvente. Kentridge é um artista matricial para as relações entre desenho e imagem em movimento, e sua obra reflete sobre a experiência do século 20 desde uma perspectiva africana. Concebida para a 16ª Bienal de Sidney (2008) e tendo participado de importantes exposições monográficas do artista desde então, a obra é agora apresentada pela primeira vez no Brasil, ocupando um dos maiores espaços expositivos do Inhotim.